domingo, 31 de julho de 2011

Jesus: A Salvação Final



por Jens Federico Weskott - jweskott@uol.com.br
Nas diversas versões do Evangelho, os autores semearam habilmente o grande segredo cifrado. Refere-se à última etapa da evolução humana, a união. O saber desta máxima e última parte da doutrina oculta se difundiu junto com outros aspectos, mas em nenhuma região chamou mais atenção e sofreu maior alteração que na Índia onde a maravilhosa e última meta da vida é a união com o mais alto Deus.
No seu livro Luz da Ásia, Edward Arnold o diz belamente: E a gota de orvalho resvala no cintilante mar. Aparentemente, o ser humano se mistura com a poderosa consciência chamada Deus - sua identidade se perde porque se torna um com o Senhor.   

O segredo não estava todo perdido nos antigos escritos yogues. Eles falam da união do homem comum - os eus básico e médio - numa alma só, comparável ao Eu Superior. Porém, Paulo via o homem comum como inimigo a ser evitado, uma fonte de escuridão e uma pedra de tropeço a ser deixada ao triste destino até atingir a união almejada com a parte maior de si mesmo.
A origem do grande segredo jaz na escuridão do passado longínquo. Com o passar do tempo, a verdade se tornou clara, se bem que cifrada. No primeiro ser, o masculino e o feminino era um só. Adão era tão masculino quanto feminino. No curso da evolução o homem separou-se em dois sexos. No início, foi o ser andrógino da Criação; de parte de si - uma costela - surgiu Eva, tornando-se sua companheira capaz de gerir e criar filhos.
Pouco a pouco, o ser humano aprendeu suas lições -talvez fosse preciso encarnar várias vezes- e Adão, o eu médio, desenvolveu-se junto a Eva, sua outra metade, para um Eu Superior. Fundidos, ganharam mais poder e inteligência, sendo capazes até certo ponto de ver o futuro. Graças ao mana recebido de seu novo eu básico e as orações, tornaram-se capazes de moldar acontecimentos.
Esta parte da doutrina secreta marca o ponto alto da vida e suas experiências. Oferece-nos beleza, contentamento e enorme competência. Promete, por último, liberdade do corpo e de seus limites. Nenhum sonho é tão nostálgico como o do parceiro perfeito. A prova mais difícil da vida é aprender a amar de modo abnegado e incondicional.
De acordo com a doutrina secreta, no início, Jesus estava ocupado demais para pensar numa 'união'. Quis ser o Messias - o amor deveria esperar. Este é o segredo implícito: após sua transfiguração, Jesus estava disposto à boda no céu. Mas a história não teve tal fim. Acaba antes de Jesus atingir o nível do Eu Superior, de unir-se à Grande Sociedade dos Eus Superiores e tornar-se o Consolador prometido. Os primeros textos cristãos contêm a noção cifrada da união do masculino ao feminino para um novo Eu Superior. Os pais da Igreja não incluíram estes antiqüíssimos documentos no cânone. Há mais material na literatura hoje chamada gnóstica.
Uma da melhores fontes de informação é o Evangelho de Tomé. O texto é bem curto e lista só provérbios de Jesus, não dados sobre sua vida e missão. O autor é tido como irmão de Jesus; diz-se que passou as palavras de Jesus a Mateus. O original foi redigido em grego. Os textos da Gnose contêm inúmeros significados ocultos; foram usados nos Mistérios. Nas parábolas e alguns textos gnósticos há passagens quase idênticas sobre o grande mistério: a evolução para um Eu Superior.
 Uma passagem no Evangelho de Tomé diz: Um homem indagou o Senhor: Quando virá teu Reino? Ele respondeu: Quando dois forem um e o masculino for como o feminino. Noutra passagem aparece uma mulher de nome Salomé que indaga: Quando a morte será vencida. Jesus diz: Enquanto vocês mulheres parirem. Eu vim para acabar com os trabalhos da mulher. Salome respondeu: Então, eu fiz bem de não procriar. Então, Jesus lhe diz: Coma de toda colheita, mas daquela que trouxer amargura e morte não coma.
E quando estas coisas acontecerão quis saber Salomé. Obteve como resposta: Quando se despir da veste da vergonha e quando dois serão um, nem homem nem mulher.
Um dos primeiros mal-entendidos da doutrina externa aconteceu quando Paulo exigiu a eliminação de Maria do grupo. Bem mais tarde nas cartas a ele atribuídas, Paulo tomou a mesma atitude. A Igreja não pôde acompanhá-lo porque sem mulheres a humanidade se extinguiria. Paulo e outros odiavam o matrimônio e a sexualidade: desconheciam a doutrina interna. Após a última encarnação, o ser humano se desliga de todos os laços terrenos de matrimônio e família e aspira tornar-se um Eu Superior.

Apenas se intui quantas pessoas tornaram-se eremitas porque, erradas, supunham serem salvas. Saber pouco é perigoso adverte um antigo provérbio. Durante séculos, foi grave erro deixar vazar partes da doutrina interna a deturpar a externa. Antes da união, os eus médio e básico e seus corpos de sombra se separam. Durante todas as vidas, incluso nas reencarnações, os corpos de sombra nos quais os eus moram estão unidos. Mas agora são separados como duas peças de roupa. Quando o eu médio está pronto á união, o Eu Superior lhe presenteia uma nova roupa que passa a ser do eu unido, quer dizer, não há uma parte masculina nem uma feminina.

Em certos textos, este manto de sombra chama-se manto de glória, noutros manto de luz - se nele habita o Eu Superior, emite luz branca raras vezes notada pelo homem comum. O manto sem costura é o símbolo do corpo de sombra e do eu masculino e eu feminino unidos num Eu Superior. Na cena da crucificação, o código revela que o homem na cruz não era um Eu Superior; foi lhe tirado o manto. João 19:23-24 diz: Quando os soldados tinham pregado Jesus numa estaca, tomaram suas roupas exteriores e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte, e também o manto. Mas o manto era sem costura, tecida de cima numa peça só. Portanto, disseram um ao outro: Não a rasguemos, mas decidamos por sorte de quem será.
A troca dos corpos de sombra ou das roupas tem a ver com a idéia da transfiguração. O termo para manto, no código, é lole e quer dizer mudar, corrigir. A perfeição final ocorre na exclusão de todos os pecados e no câmbio de um plano para outro. Também muda o corpo de sombra. As raízes lo e le indicam que o eu básico sobe um degrau. Lo designa o cérebro de um homem ou animal; visto que as vísceras, antes, eram a sede do intelecto, trata-se de uma clara referência ao eu básico. A segunda raiz significa pular ou voar para cima, atingir um patamar mais alto. .

A idéia de subir um degrau também aparece no código: em pisar na veste da vergonha. Pisar é hele com a mesma raiz le e também quer dizer seguir ou, aqui, subir um degrau. Vergonha é hila-hila com as raízes hi (enfraquecer, estar fraco) e la (luz). Quando os corpos de sombra estão fracos não têm mais luz, o que no código também significa sem vida. Através das reencarnações, os eus médio e básico cansam e enfraquecem, enquanto o Eu Superior não muda. A veste da vergonha só pode ser o eu básico a ser limpo antes de subir para cima.

Resumido de Max Freedom Long A doutrina secreta de Jesus.

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